ENFERMIDADES DA COLUNA VERTEBRAL
Enfermidades da coluna vertebral, como a dor lombar, têm acarretado graves conseqüências de ordem social e econômica (STOKES, 2004; PANJABI, 2003).
A falta de instrumentos eficazes para o diagnóstico funcional da coluna, em larga escala, pode estar contribuindo para a manutenção deste quadro.
No âmbito clínico, tradicionalmente, a sensação subjetiva de dor e a anatomia estática da coluna (através de radiografias) têm sido avaliadas a fim de estimar a funcionalidade vertebral, embora já seja reconhecida a ineficiência destes métodos para a maioria dos casos (LEHMAN, 2004; NEWMAN et al., 1996).
Uma coordenação vertebral específica durante as exigências mecânicas é essencial para a estabilidade e conseqüente proteção da estrutura (NEWMAN et al., 1996).
Acredita-se que padrões coordenativos inapropriados podem estar associados a estas enfermidades (PANJABI, 2003).
Por isto, métodos não invasivos para análise quantitativa da coluna em movimento mostram-se promissores para o diagnóstico funcional da coluna (LEHMAN, 2004; NEWMAN et al., 1996).
A marcha é, provavelmente, o movimento mais comum para a maioria dos seres humanos.
Como bem salientou Vaughan (2003), o andar é uma rica fonte de informações sobre a condição biomotora humana. BenAbdelkader et al. (2004) evidenciaram que “o andar contém uma assinatura que é característica, possivelmente única, de cada indivíduo”.
A coluna participa ativamente e desempenha um importante papel na mecânica da locomoção humana.
O tronco e os membros superiores providenciam parte do apoio e inércia necessários à geração do movimento dos membros inferiores.
A força de reação do solo propagase pelos membros inferiores e, ao chegar à cintura pélvica, atua sobre o sacro causando efeitos que se distribuem pelo restante da coluna.
Os ligamentos, os discos intervertebrais, e principalmente os músculos do tronco estabilizam a coluna durante a marcha (THORSTENSSON et al., 1982).
Por outro lado, ações antecipatórias podem configurar a coluna para otimizar a movimentação dos membros inferiores e a absorção dos impactos.
Em decorrência desses fatores, durante o andar, a forma geométrica da coluna adapta-se e oscila, realizando um ciclo completo por passada no plano frontal e dois no sagital (SAUNDERS et al., 2005; CALLAGHAN et al., 1999; CROSBIE et al.,1997a).
Tal fenômeno está relacionado com a periodicidade da movimentação dos membros inferiores, que apresenta dois passos por passada.
Apesar desta periodicidade, a simetria que o movimento apresenta no plano frontal não ocorre necessariamente em torno de uma postura retificada, mesmo em pessoas assintomáticas (FRIGO et al., 2003; BRENZIKOFER et al., 2000; CAMPOS et al., 2003).
Geralmente, o formato da coluna na postura ortostática, comumente denominado “postura neutra” (neutral position), é utilizado como curva de referência em torno da qual aconteceriam as oscilações da forma da coluna durante a marcha
(SYCZEWSKA et al., 1999; CROSBIE et al., 1997; VOGT e
BANZER, 1999; CALLAGHAN et al., 1999; SAUNDERS et al., 2005).
No entanto, a posição ortostática e o andar são tarefas distintas que envolvem, por exemplo, diferentes estratégias de controle do equilíbrio (WINTER, 1995). Frigo et al. (2003) verificaram que na marcha há inclinação anterior do tronco, diminuição da anteversão pélvica e conseqüente diminuição da lordose lombar em relação à posição estática.
Portanto, é provável que a curva de referência, em torno da qual a forma da coluna oscila durante a marcha, seja distinta da curva apresentada na posição ortostática.
Não foram encontrados trabalhos que tenham investigado a questão através de métodos que permitam identificar esta curva detalhadamente, abrangendo a coluna em toda sua extensão.
A configuração geométrica da coluna oscila ao redor de uma curva média das posturas dinâmicas apresentadas durante a passada.
Esta forma geométrica de referência foi denominada “Curva Neutra”.
A oscilação da forma geométrica da coluna, em torno da Curva Neutra, foi nomeada “Componente Oscilatório”.
Termos já adotados para os mesmos conceitos, na análise da corrida, por Deprá (2004) e da marcha por Campos et al. (2005).
Em cada instante do ciclo da passada, representou-se a coluna vertebral por uma linha contínua no espaço.
Esta curva é projetada nos planos sagital e frontal, e sua forma geométrica foi quantificada utilizando-se o conceito de curvatura geométrica bidimensional (BRENZIKOFER ET al., 2000).
Curva Neutra e o Componente Oscilatório
A Curva Neutra é uma característica predominantemente individual, na situação de marcha, relativa à situação anatômica da pessoa; por outro lado, o Componente Oscilatório caracteriza o movimento.
O aumento da velocidade da marcha reflete-se na alteração de importantes parâmetros biomecânicos.
Pode-se destacar o aumento dos picos de força de reação do solo (NILSSON e THORTENSSON, 1989), da freqüência e comprimento das passadas (NILSSON e THORTENSSON, 1987), assim como da amplitude de oscilação da forma geométrica da curva lombar (CROSBIE et al., 1997b; CALLAGHAN et al., 1999).
Se a Curva Neutra for uma característica predominantemente individual, poder-se-ia esperar que as suas curvaturas fossem pouco influenciadas pela velocidade.
Por outro lado, o Componente Oscilatório deveria apresentar uma relação funcional com a velocidade.
Nos modelos adotados pela maioria dos estudos sobre as adaptações geométricas da coluna vertebral em situação de marcha, as informações são obtidas a partir de regiões isoladas ou segmentadas da coluna
(SYCZEWSKA ET al. 1999; STOKES et al., 1989; LAFIANDRA et al., 2003; VOGT e BANZER, 1999; CROSBIE et al., 1997a; CALLAGHAN et al., 1999; SAUNDERS et al., 2005), o que não
parece ser fiel à realidade.