HISTÓRICO
A epilepsia foi vista em animais filogeneticamente mais antigos que o homem, sugerindo que já havia animais epilépticos antes que o homem surgisse.
As mais remotas descrições da epilepsia, porém, são dos egípcios e dos sumérios e datam de 3500 a.C. Por volta de 1.700 a.C., o principal documento que trata de neurologia no Egito Antigo, o Papiro de Smith, cita possíveis crises convulsivas nos trechos que descrevem ferimentos na cabeça.
Na Suméria (Mesopotâmia), nessa mesma época, vários textos, em acadiano, registram muito bem crises epilépticas.
Todas as idéias relacionadas à medicina vinculavam-se a fenômenos sobrenaturais, magia e maldições.
No século VI, a medicina grega avançou significativamente na compreensão das doenças, entre elas a epilepsia.
Por volta de 400 a.C., Hipócrates, o pai da medicina, afirmou que a causa da epilepsia não estava em espíritos malignos, e sim no cérebro, tentando desfazer mitos sobrenaturais.
Os escritos da época foram os primeiros a atribuir causas físicas para as doenças e afecções neurológicas, e identificou o cérebro como o local chave para o entendimento do comportamento humano.
Remédios, dieta e hábitos saudáveis - e não sacrifícios aos deuses, rezas ou magias - poderiam tratar os epilépticos.
Para fazer o diagnóstico, baseavam-se na observação cuidadosa dos sinais e sintomas do doente. Há descrições, por exemplo, de auras visuais, auditivas e vegetativas.
O termo "aura" (que em grego significa "brisa") designa a sensação que ocorre no início da crise e se originou na história de um professor de Galeno, Pelops. Ao perguntar a um epiléptico o que ele havia sentido durante a crise, este não soube responder, mas um amigo, que presenciara o acontecimento, disse que era como se uma "brisa" tivesse passado por ele (referia-se possivelmente ao olhar de surpresa e à expressão facial que com freqüência está presente no início das crises).
No final do século XIX e no início do século XX, o estudo das auras se mostrou importante para a localização da região do cérebro geradora de crises. Diversos pesquisadores estudaram a epilepsia, destacando-se Areteus da Capadocia, Galeno de Pergamo (a maior autoridade medica juntamente com Hipócrates durante o domínio do Império Romano no século II d.C.) e Celso Aureliano. Na Alexandria, Erasistrato e Herófilo fizeram dissecções humanas para estudo.
Na Renascença e com a Revolução Científica, a anatomia fundamental para o conhecimento do corpo humano passou a ser realmente estudada, com dissecções e observações meticulosas das estruturas.
O livro de anatomia "De Humanis Corpora Fabrica", de Andréa de Vesalius, concluído em 1543, é uma das obras mais importantes da história da Medicina. René Descartes abriu as portas para a pesquisa neurofisiológica experimental.
Fez vários estudos fisiológicos e anatômicos com animais, investigando exaustivamente o sistema nervoso.
Ele afirmava que a epilepsia originava-se no cérebro. Na Idade Média, a epilepsia foi relacionada com doença mental e contagiosa--tabus que persistem até hoje, devido à falta de divulgação de informações corretas.
Naquela época, freqüentemente tentava-se curar o mal por meios religiosos.
O neurologista John Hughlings Jackson afirmou, no século XVIII, que a disfunção era causada por uma descarga anormal das células nervosas.
A Bíblia também cita a epilepsia: em Mateus 17:14-18, Marcos 9:17-27 e Lucas 9:38-42, relata-se o caso de um jovem epiléptico levado a Jesus em busca de cura.